RAUL MARTINS, nasceu em Abrantes no dia 14 de Julho de 1953 com “duas costelas alentejanas”, já que os pais eram ambos de Beja. Aí viveu até aos cinco anos de idade. Nessa altura o pai foi trabalhar para o Barreiro, para a CUF, e por isso a família acompanhou-o.
Frequentou a escola Alfredo da Silva, até ao terceiro ano, jogou futebol na CUF no popular clube do Barreiro, onde fez muitos amigos e chamou a atenção pela habilidade no desporto-rei. Mas não era só o futebol que ocupava o tempo de Raul Martins, eram também as canções porque adorava cantar. “Gostava muito de cantar e dos dez aos treze anos cantei em vários clubes no Barreiro com vários artistas, incluindo António Mourão e António Calvário. Se não tivesse emigrado podia ter sido um talentoso artista pois com aquela idade já tinha contratos para ir a programas de rádio e televisão”.
A VIDA COM OUTROS PLANOS
Mas a vida tem, por vezes, planos diferentes dos nossos. O pai de Raul Martins não “se estava a dar muito bem” com o regime de Salazar e como tinha um amigo na África do Sul que lhe enviou uma carta de chamada, decidiu emigrar sem sequer conhecer o país ou falar a língua. “Os portugueses sempre tiveram um grande espírito de aventura, desde os nossos descobridores. Ainda hoje os portugueses continuam a emigrar embora em circunstâncias muito diferentes das dos anos 60”.
É desta forma que Raul Martins, com apenas treze anos, se vê a caminho da África do Sul, onde as coisas eram muito diferentes daquilo que conhecia em Portugal. O começo também não foi fácil, “quando cheguei fui admitido numa escola onde era o único português e por isso batalhei durante seis meses para que me compreendessem. Mais tarde acabei por ir para uma outra escola onde estavam a ensinar os filhos dos emigrantes a falar inglês e foi aí que fiz amizade com outros rapazes portugueses porque sentíamos que afinal estávamos todos no mesmo barco”.
O FUTEBOL AJUDOU À INTEGRAÇÃO
Aos poucos começou a integrar-se na vida sul-africana e recordando a vida no Barreiro decidiu recomeçar a jogar futebol no Lusitano Club. Teve sucesso imediato e chegaria à primeira equipa aos 22 anos. “Foi nessa altura que me mudei para o Troyville Football Club onde acabei a minha carreira futebolística aos 36 anos como capitão da União Portuguesa. Foram, sem duvida, os bons anos da minha vida”.
Em 1972 começou a trabalhar no Standard Bank of South Africa, onde permaneceu oito anos. “Na África do Sul os bancos são muito diferentes de Portugal porque dão oportunidade para ter experiências em vários departamentos, enquanto que em Portugal as pessoas fazem o mesmo trabalho durante anos”.
Em 1980 mudou-se para o Trust Bank onde se especializou em Marketing, Financiamentos de Leasing e outros, onde viria a estar mais sete anos até 1987.
SURGE A OPORTUNIDADE PARA DESENVOLVER UM PROJETO PESSOAL
Corria o ano de 1987, quando Raul Martins sentiu que podia fazer algo de seu “Nessa altura senti que havia uma oportunidade de começar o meu próprio negócio, visto existirem muitos portugueses que não tinham a mínima ideia de como se dirigir à banca para obter crédito destinado à expansão dos seus negócios. Por isso saí do Banco juntamente com o amigo Américo Silva que trabalhava noutra instituição financeira e criámos uma companhia, a SAPOR (South African Portuguese Finance)”.
Só no primeiro ano de trabalho ajudaram a formar 42 novas empresas no ramo da engenharia, algumas das quais são, ainda hoje, grandes empresas na África do Sul.
A SAPOR FINANCE continuou com o seu trabalho de corretagem envolvendo-se em diversos sectores da economia e ajudando muitas empresas a crescer, por isso é ainda hoje uma empresa muito reconhecida na comunidade portuguesa. Hoje em dia e apesar de ainda ter negócios com vários bancos, criou a sua própria “Boutique Finance House” com cerca de 400 investidores com o valor de 150 milhões de Rands para um conjunto superior a 8.000 clientes financiados. “Temos as melhores relações com todos os bancos e presentemente lidamos com quatro de quem temos todo o apoio possível. Em 2012 não renovámos o nosso acordo com um Banco o que nos levou a iniciar uma estreita colaboração com o Banco BANIF. O comendador Horácio Roque era nosso amigo pessoal e depois de várias tentativas, no passado, acabámos por iniciar esta relação. Estamos muito satisfeitos e sentimos todo o apoio por parte da instituição BANIF”.
HOMEM DE NEGÓCIOS DE SUCESSO E LÍDER DESTACADO DA COMUNIDADE
Para além de homem de negócios, Raul Martins é também um líder destacado da comunidade que o leva a estar envolvido com muitos projetos e organizações. “Em 1980 fundámos a Escola do Lusito para atender 80 crianças com necessidades especiais. É provavelmente uma das instituições com mais sucesso na África do Sul, com a escola totalmente paga e uma confortável situação financeira. Fui presidente da instituição de 1982 a 1986 e foi nesse período que criámos o festival da Lusitolândia, uma feira anual que representa muito financiamento para o Lusito”.
Para além disto, Raul Martins é também membro do SAPCC (Câmara de Comércio Luso-Sul Africana), SECLUSA (Sociedade Económica e Cultural Luso Sul-Africana), ACADEMIA DO BACALHAU de Joanesburgo, do Redskins Golf Group e ainda do LAR DE S. ISABEL – que acolhe idosos na África do Sul.
UM EMIGRANTE DE SUCESSO QUE NÃO ESQUECE PORTUGAL
Para além desta vida, muito ocupada, não esquece Portugal “vou pelo menos duas vezes por ano e vou sempre ao congresso dos agentes de viagem, organizado pela Mundiventos e pelo Mundo Português e que me tem proporcionando conhecer Portugal de norte a sul, incluindo Madeira e Açores”…
Casado há 40 anos com Lucília, tem duas filhas a Michelle de 37 anos e a Bianca de 30. Tem duas netas a Alexis de 14 e a Tyla -Jade de 9. Michelle é diretora da SAPOR e a Bianca “anda a descobrir o mundo desde 2010, estando presentemente na Tailândia a ensinar Inglês”. O futuro não é fácil para a comunidade porque “as pessoas deixaram de frequentar clubes portugueses e, por isso, cada vez perdemos mais a nossa língua e a nossa cultura”.
Pensar em regressar um dia não é fácil, porque toda a sua vida está na África do Sul, mas confessa que “gostava de passar mais tempo em Portugal”.
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