“Considero-me um pintor de gentes, mas tento encontrar as diferenças nessas realidades que vou encontrando”, define-se Bruno Netto. O artista plástico tem patente até 15 de fevereiro, na sede do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, em Lisboa, uma exposição cuja temática pode dizer-se que é uma declaração de amor a Lisboa, feita no feminino. Ao «Mundo Português, Bruno Netto, que atualmente vive na Holanda, fala da suas obras, do que o inspira e do que o define como pintor.
Bruno Netto, 36 anos, nasceu em Lisboa. Depois de concluir os os estudos em Arte e Design, a pintura levou-o para Espanha, Argentina, Inglaterra e Holanda, onde reside atualmente. O reconhecimento internacional veio com uma exposição na Galeria Opera, em Budapeste, Hungria, que lhe valeu o premio ‘Art laudabilis’.
Como começou a pintar?
Desde que me lembro sempre quis pintar. Há uma frase de um dos meus artistas favoritos, Diego Rivera, muralista mexicano, que dizia que “se somos artistas, pintaremos até morrer, será como respirar.” E para mim é assim também. Assim que senti essa enorme vontade em criança, nunca mais me abandonou. Desde então fui explorando diferentes vertentes e técnicas, e dai ter viajado pelo México, Argentina, etc para compreender e aprender de outros artistas.
Como define a sua pintura?
Eu gosto de pintar as realidades que vejo no meu dia-a-dia. Considero-me um pintor de gentes, mas tento encontrar as diferenças nessas realidades que vou encontrando. Por exemplo, posso pintar uma mulher a tocar um instrumento musical, um violino, e essa é a ação na qual eu baseio toda a pintura, mas depois há certos elementos digamos surrealistas, com os quais gosto de interactuar. A água é sem dúvida um deles. Porque dá movimento, dá força e dá energia.
Fale um pouco das obras que integram a exposição no Camões, IP…
As obras aqui enviadas (fotografias) fazem parte da exposição feita no Camões-Instituto da Cooperação e da Língua organizada pelo Camões e pela Embaixada Portuguesa na Holanda, onde a temática é uma história de amor e Lisboa. As figuras inserem-se em grandes planos, neste caso a mulher como figura principal e a interação dela com as diferentes realidades que vai encontrando. Há somente uma obra, de que particularmente gosto muito e que também foi exposta – é um trabalho feito especialmente para o Nuno Flores (ex-membro dos Quinta do Bill) e a sua banda ‘The Crow’, em que retratei o músico e a banda e onde se pode ver a água que sai dos violinos simbolizando a força e o movimento. Mas todas elas (estão) inseridas nesse tema figurativo, que é retratar a figura com uma cor e uma força muito grandes.
Há na sua pintura alguma marca de portugalidade?
Em geral eu pinto situações diárias, mas não têm necessariamente que a ver com Portugal. Talvez o facto que distinga a minha pintura seja a cor forte que utilizo. Mas nesta ultima exposição esteve bem patente essa “marca” portuguesa com a cidade de Lisboa como pano de fundo. Eu acho que a pintura tem de ser “descomplicada”, ou seja, reflectir, de maneira mais prática e pura, o que o pintor sente.
Para um pintor, ser português é uma vantagem ou uma desvantagem?
Acho que não se pode aplicar muito o “ser” ou não português. Um pintor é um pintor, independentemente da sua nacionalidade. Talvez haja quem utilize o patriotismo ou nacionalismo na sua pintura, mas eu como já estou fora há vários anos, suponho que já “bebi” tanto de outras culturas que isso reflecte-se na minha obra. Agora, sou um português muito orgulhoso do meu país, e sempre que exponho fora é uma honra enorme dizer que sou português. Para mais, temos uma grande tradição na Arte, temos excelentes artistas como Júlio Pomar, Cruzeiro Seixas, Joana Vasconcelos, etc, para citar alguns.
A sua pintura nasce do seu quotidiano, ou faz parte de um projeto imaginário?
É curioso que faça essa pergunta, já que tento precisamente que haja um equilíbrio entre o quotidiano das cenas que pinto, e um (universo) imaginário. Para mim, é importante que o público que olha para o meu trabalho seja transportado a um outro mundo, que não fique só no primeiro plano dos quadros. Aí há sempre um equilíbrio que tento manter para não deixar “fugir” o quadro para outros sítios, mas nem sempre se consegue.
Porquê a Holanda depois de tanto ter viajado pelo mundo?
A Holanda veio a ser o país que melhores condições me dava na época em que decidi estabelecer-me aqui. Gostei da sua gente, e da inspiração encontrada e decidi ir ficando. O que não significa que não mude uma vez mais ou viaje bastante, como até agora o tenho feito.
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