A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) associou-se a várias entidades para recuperar e proteger as sementes de muitas espécies autóctones da floresta portuguesa, a fim de assegurar a sua salvaguarda e a possibilidade de reflorestação dos territórios no futuro.
João Fidalgo Carvalho é estudioso das espécies autóctones e um dos responsáveis, juntamente com os seus estudantes, pela plantação de 300 mil árvores nos últimos anos. O docente e investigador do Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da UTAD, vê com preocupação a “degradação do território e a consequente destruição da floresta autóctone, em grande parte pela mão do homem, de que o flagelo dos incêndios é apenas uma das faces visíveis do fenómeno”.
O investigador alerta para a necessidade da sociedade em geral despertar para o grave problema das espécies em vias de extinção. “Tempos virão em que perceberá que, sem a biodiversidade ativa, estará em causa a qualidade de vida nos territórios”, afirmou, acrescentando que assume importância crucial a preservação da floresta autóctone, em especial as espécies folhosas, relevantes que são não apenas a nível ambiental e ecológico, mas também do ponto de vista económico.
Em estudo, dez espécies muito raras
Das 60 espécies autóctones estudadas pela UTAD, há 10 espécies hoje muito raras e quatro já praticamente extintas. Por exemplo, “do mostajeiro, uma espécie outrora muito usada para madeira e artesanato e cujo fruto as populações aproveitavam para uma excelente compota, já só conheço duas árvores, uma nas Beiras e outra em Trás-os-Montes”, revela João Fidalgo Carvalho, para quem as vantagens em apostar nas espécies autóctones na composição da floresta portuguesa são imensas.
“Contrariamente ao que sucede com as espécies introduzidas, as autóctones adaptam-se melhor às condições climáticas locais, resistem melhor às pragas e doenças e, inclusive, contribuem para a mitigação das alterações climáticas”, esclarece.
Por esse motivo, a UTAD está também a apostar fortemente no estudo das sementes para que se possam recuperar espécies em extinção, e, no futuro, se poder reflorestar o território com qualidade, tendo em conta que a qualidade das sementes é um dos importantes aspetos a ter em conta em qualquer programa de arborização.
“Infelizmente na geração atual ainda há muita gente que negligencia a floresta e olha as árvores como algo descartável na natureza, mas temos de manter a esperança de que outras gerações virão e perceberão como a floresta é fundamental para a sobrevivência da humanidade. Daí que proteger os recursos genéticos e promover a arborização de espécies autóctones, seja também uma forma de proteger o futuro”, lembra o investigador.
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