O Castelo de Arraiolos enquadra-se na campanha de fortificações de D. Dinis no Alto Alentejo. Insere-se na rede territorial do ducado de Bragança, situando-se nas proximidades de outros castelos da mesma casa – Évoramonte e Vila Viçosa. Formava uma linha defensiva na parte sul do reino, juntamente com os castelos de Montemor-o-Novo e Estremoz.
A primitiva ocupação humana deste local rochoso conhecido como Monte de São Pedro, a norte de Arraiolos, remonta a 2500 A.C., a um possível povoado do Neolítico e do Bronze.
Assim o indicam alguns instrumentos encontrados em campanhas arqueológicas desenvolvidas no local e que atualmente estão em exposição no Museu de Évora.
Também através de achados arqueológicos ocasionais há evidências que apontam para o povoamento da zona onde se ergue a cerca medieval durante o período pré-romano (1000 a.C.)
A época medieval
No contexto da Reconquista cristã da região, D. Afonso II de Portugal (1211-1223) fez doação, a título perpétuo e hereditário, da ‘herdade de Arraiolos’ ao então bispo da diocese de Évora, Soeiro (II) (1204-1229), com licença e a obrigação de construção um castelo para assegurar a defesa destas terras.
Posteriormente registam-se contendas entre Afonso III de Portugal (1248-1279) e o então bispo de Évora, D. Martinho (I) Pires (1237-1266), devido à intenção régia de reaver a herdade de Arraiolos, mas o segundo conseguiu conservar a sua posse.
A vila e o termo de Arraiolos retornaram em 1271 à posse régia, embora no fim da sua vida D. Afonso III tenha doado de novo a vila à Igreja, no contexto da sua tentativa de resolução do conflito que o opunha à Santa Sé.
Datará de 1290 uma possível carta de foral concedida por Dinis I de Portugal (1279-1325) a Arraiolos, documento que poderá estar confundido com uma carta de aforamento do reguengo do soberano termo de Arraiolos.
Perante o crescimento da população, uma nova determinação para o levantamento de uma defesa leva-nos até um contrato, firmado entre D. Dinis, o concelho da vila, o alcaide, e os juízes de Arraiolos (26 de Dezembro de 1305), que estipulava a obrigação de levantar, em torno da povoação uma fortificação defensiva capaz.
Neste sentido, as obras tiveram início no ano seguinte (1306), estando os trabalhos da cerca concluídos em 1310. O paço dos alcaides estava concluído em 1315 com um custo de 2.000 libras. Naquele ano existia já um paço ao qual terão sido adicionadas outras parcelas para sua ampliação, por via de uma aquisição feita pelo soberano de um terreno ali perto.
Ao subir ao trono em 1367, Fernando I de Portugal (1367-1383) renovou o senhorio da vila de Arraiolos a Rodrigo Afonso de Sousa, filho de D. Afonso Dinis, por sua vez filho ilegítimo de D. Afonso III de Portugal (1248-1279) e a quem esta concessão tinha sido entregue primeiramente por Pedro I de Portugal (1357-1367). Mais tarde, em 1371, o soberano concedeu carta de privilégios, tal como perdão de dívidas e dispensa de obrigação de conceder aposentadoria, a quem habitasse a área intra-muros de Arraiolos: esta iniciativa régia foi depois confirmada por D. João II (1481-1495), D. Manuel I (1495-1521) e D. João III de Portugal (1521-1557).
Em 1377, devido à morte de D. Rodrigo Afonso de Sousa sem herdeiros, deu-se a concessão do senhorio da vila a D. Álvaro Pires de Castro, irmão de Inês de Castro, conde de Viana e 1.º condestável do reino, que ficou com o título de 1.º conde de Arraiolos.
No contexto da crise de sucessão de 1383-1385 o senhorio da vila foi retirado pelo Mestre de Avis, futuro D. João I de Portugal sob acusação de um possível apoio que havia prestado a Castela (3 de maio de 1384), vindo a ser doado a Fernão de Álvares Pereira, irmão de Nuno Álvares Pereira, em recompensa por serviços prestados (30 de agosto de 1384).
O usufruto desta doacção foi, no entretanto, muito efémero, uma vez que Fernão morreu pouco depois, em Vila Viçosa, às mãos dos castelhanos. Ainda nesse ano (1384) a vila foi ocupada por tropas castelhanas, sob o comando de Pero Roiz Sarmiento, vindo a ser incendiada pelos castelhanos em 1386, após a tomada de Évora.
Sob o reinado de João II de Portugal (1481-1495), por volta de 1480 teve lugar uma intervenção de reestruturação arquitetónica do Paço, assim como obras de consolidação da torre de menagem, como comprova o brasão de armas do soberano numa pedra de mármore na mesma torre.
Ao ascender ao trono, Manuel I de Portugal (1495-1521) confirmou a posse do condado de Arraiolos a D. Jaime I, 4.º duque de Bragança (16 de agosto de 1496), no contexto da reintegração na Casa de Bragança dos seus antigos bens. O soberano passou pela vila em 22 de Outubro de 1499, vindo a outorgar-lhe o Foral Novo em 29 de Março de 1511.
No reinado de D. João III de Portugal (1521-1557), em 1523 já existia um relógio numa das torres da muralha, embora haja a possibilidade de já existir anos antes, datando possivelmente do século XVI a construção do coruchéu cónico na torre do relógio.
O soberano reconheceu o título de conde de Arraiolos a D. Teodósio I de Bragança (1542) e revogou os privilégios aos moradores da cerca (1544), que perdia a sua função defensiva diante do crescimento dos arrabaldes. O despovoamento da área intra-muros deveu-se à sua reduzida área e à melhor harmonização do arrabalde com a atividade agrícola e o transporte inter-regional.
Da dinastia Filipina à atualidade
Por altura da Dinastia Filipina (1580-1640) a área intra-muros ainda era habitada, sendo 1599 o último ano em que as portas da cerca se fecharam regularmente, todas as noites, reguladas pelo toque de um sino.
Nessa época um grande número de novas moradias já se espalhava pelas encostas desta região.
No início do século XVII a cerca já se não encontrava guarnecida – o que deu o mote para um episódio curioso: as pedras da muralha estavam a ser reaproveitadas pela população.
Desse modo, a vereação camarária aprovou em 1613 a proibição de arrancar materiais de construção da mesma e do antigo casario, com sansões que variavam, indo do pagamento de 500 réis à pena de 10 dias de prisão. Mais tarde, em 10 de Abril de 1616 aprovou-se a proibição de manter bóis e bestas dentro do recinto intra-muros durante a noite, sob pena de sanção.
À época da eclosão da Guerra da Restauração da independência portuguesa (1640-1668), Pedro de Sousa de Brito foi nomeado como alcaide-mor, tendo a fortificação da vila recebido alguns privilégios militares.
Naquele momento (1640) foi detida Francisca de Vilhena, marquesa de Montalvão, por ter tido conhecimento da fuga dos seus filhos, D. Pedro e D. Jerónimo de Mascarenhas, para a Espanha, enquanto o seu esposo, Jorge de Mascarenhas, 1.º conde de Castelo Novo e 1.º marquês de Montalvão, se encontrava naquela colónia no cargo de 1.º vice-rei do Brasil.
Logo no início do ano de 1642, a 6 de Janeiro, registou-se o pedido dos procuradores de Arraiolos ao novo soberano para reparação das muralhas da vila e da sua barbacã, para tornar o espaço habitável e dotá-lo de equipamento bélico.
Em seguida, a 11 de maio do mesmo ano, a guarda da fortificação foi confiada a Custódio de Vilalobos de Almeida, capitão de Ordenanças.
Mais tarde, em sessão camarária, foi pedida a transferência do mestre-de-campo Trigueiros, de origem castelhana, encarcerado no castelo, para a cadeia da vila, por aí encontrar maior segurança (20 de Dezembro de 1642).
E um ano mais tarde, também em sessão da Câmara, decidiu-se fazer novas portas para a cerca e outras obras, visando reforçar a sua defesa (30 de Dezembro de 1643).
Uma informação de 1655, entretanto, dá conta de que a praça se encontrava em muito mau estado: a cerca estava parcialmente em ruínas, a barbacã tinha derrocado, a torre de menagem estava muito danificada e o Paço dos Alcaides inabitável, sendo a Igreja do Salvador o único edifício intra-muros em boas condições.
O terramoto de 1 de Novembro de 1755 aumentou a ruína do conjunto, colocando a torre de menagem na iminência de desabamento.
No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834) o pátio do paço serviu de cemitério para as vítimas de “cholera morbus” da região (1833), embora por pouco tempo, dado que diante da extinção das Ordens Religiosas Masculinas no país (1834), foi transferido para o claustro do Convento de São Francisco.
Ao final do conflito, em 26 de Maio de 1834 registou-se a passagem do duque da Terceira para aclamação de Maria II de Portugal (1826-1828; 1834-1853).
No dia seguinte (27 de maio), chegou a Arraiolos o segundo exército do conde de Saldanha que aqui permaneceu quatro dias, a aguardar as negociações entre D. Miguel e D. Pedro (Convenção de Évora-Monte, 26 de maio de 1834).
Quanto ao seu estilo, trata-se de um exemplar de arquitetura militar, gótico, de traçado circular, de enquadramento urbano, edificado no cimo de um monte, de constituição granítica, a 387 metros acima do nível do mar, e a sudoeste da ribeira do Divor.
Apesar da licença para construir um castelo, explícita na doação de D. Afonso II, não se encontram vestígios arqueológicos de qualquer estrutura defensiva desta época.
Atualmente, apenas se conserva um edifício no seu interior – a Igreja do Salvador -, que serviu como matriz da vila até ao século XVII, orientada no sentido sudoeste-nordeste, apresentando planta em forma de cruz latina, construída na mesma época da cerca, e reconstruída no século XVI.
Existe ainda uma tradição local curiosa que afirma que existe uma passagem subterrânea secreta que liga o castelo ao Convento de Nossa Senhora da Assunção (Convento dos Loios).
A visita ao Castelo de Arraiolos é gratuita e poderá, ainda, conhecer mais do espólio desta construção no Museu de Évora que inclui muitas descobertas arqueológicas relevantes encontradas no local e de uma importância extrema.
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