Leva-nos numa viagem no tempo. No Castelo de São Jorge, todas as pedras falam e contam a história da Cidade das Sete Colinas…
Construído no século XI, o Castelo de São Jorge mantém-se, imponente, no topo de uma das colinas de Lisboa. Pode ser visto de vários pontos da cidade – o que torna fácil esgueirar-se para as objetivas daqueles que visitam a capital.
A presença humana naquela colina, com visão privilegiada sobre Lisboa, é muito antiga. Testemunhos arqueológicos permitiram concluir que o local foi habitado por fenícios, gregos, cartaginenses, pelo menos desde o século VI a.C. Os registos históricos, no entanto, regressam apenas à conquista da Hispânia por parte das legiões romanas, quando a cidade ainda se chamava Olísipo. Serviu como base de operações romana do Cônsul Júnio Bruto. Nessa altura, a partir de 139 a.C, admite-se que tenha existido uma estrutura defensiva na colina.
Por entre a fase romana e as conquistas suevas e visigóticas, a cidade caiu sob domínio muçulmano, no século VIII, e terá sido sob jurisdição árabe que o castelo foi construído no século XI. A fortificação preserva, ainda hoje, onze torres de defesa com alguns elementos arquitetónicos característicos das fortalesas islâmicas da altura. As suas muralhas defendiam a “quasabah” (alcáçova), o centro do poder político e militar da cidade. As escavações arqueológicas isso confirmam: no sítio onde estão hoje instalados o Museu, o Café do Castelo e o Restaurante do Leão, havia uma cidadela islâmica. Este local foi simultaneamente a residência por excelência de governantes, nobres, altos funcionários e sede militar.
Três meses de cerco
Por altura da Reconquista cristã, a posse do castelo oscilou conforme as investidas cristãs. A futura capital foi inicialmente conquistada aos árabes por Afonso II das Astúrias, em 786, tendo sido fortemente saqueada nessa ocasião. Ordonho III, de Leão, protagonizou um episódio idêntico na tentativa de conquistar Lisboa e, na altura, deixou a cidade bastante danificada. No início do século XII, a cidade integrava os territórios da taifa de Badajoz. Desta forma, o castelo estava sob proteção Almorávida quando D. Afonso Henriques consumou a derradeira investida, em 1147, acompanhado pela Segunda Cruzada que se dirigia para a Terra Santa. O cerco foi demorado – três meses -, mas o monarca expulsou os muçulmanos e abriu as portas do castelo aos cristãos. Assim, o Rei e a corte mudam-se para o Castelo de São Jorge, transformando-o, mais tarde, no Paço Real.
A lenda que se formou em torno da reconquista de Lisboa enaltece em particular um cavaleiro: Martim Moniz. Apercebendo-se de que uma porta do castelo estava entre-aberta, o cavaleiro impediu com o próprio corpo que os seus inimigos a voltassem a fechar, permitindo a entrada do exército no último reduto de batalha e a vitória das forças cristãs. Desde essa altura, o portão passou a chamar-se Porta do Moniz – o local do sacrifício que permitiu a vitória a D. Afonso Henriques no dia 25 de Outubro de 1147.
Em 1256, Lisboa tornou-se capital do reino de Portugal. Desde esse momento até ao século XVI, o castelo conheceu o seu período aúreo. Para além da residência real e do palácio dos Bispos, a alcáçova recebeu casas dos nobres da corte. Vários reis dos séculos XIII, XIV e XV, promoveram melhorias consideráveis no castelo. Em meados do século XIII, D. Afonso III fez obras de reparação no palácio do governador. No século XIV, D. Dinis transformou a alcáçova mourisca no Paço Real da Alcáçova. D. Fernando, em 1373, com o objetivo de expandir o castelo e acompanhar o crescimento da cidade, mandou construir a Cerca Nova ou Cerca Fernandina. Foi também com D. Fernando que se instalou a Torre de Ulisses, onde se guardavam os documentos antigos do Arquivo Real.
Com a proteção de São Jorge
Depois das guerras com Castela e restabelecida a paz, nos finais do século XIV, D. João I colocou o castelo sobre a proteção de São Jorge, santo protetor dos guerreiros e da fé cristã. Gradualmente, a fortificação foi perdendo a sua função militar que recuperou na altura de domínio filipino. Foi no Paço Real da Alcáçova que Vasco da Gama foi recebido por D. Manuel quando regressou da Índia na passagem do século XV para XVI. Foi também ali que se representou o Auto do Vaqueiro pela primeira vez, por ocasião do nascimento do príncipe D. João, futuro D. João III.
Em meados do século XVI, D. Sebastião mandou reedificar o Paço para aí residir, ficando, desta forma, para a história como o último rei a residir no antigo Paço Real. Com ida da corte para a zona baixa da cidade, a fisionomia da alcáçova foi-se alterando e, gradualmente, os palácios deram lugar a habitações mais populares ainda hoje visíveis no traçado urbano da atual freguesia do Castelo.
O terramoto de 1755 causou severos danos ao castelo, já de si descaracterizado pelas construções que lhe foram sendo acrescentadas. Desapareceram inúmeros edifícios, torres e troços da muralha. Os vestígios arqueológicos em toda a zona do Paço Real revelaram a incapacidade de retirar os escombros do terramoto, optando-se por construir novos edifícios sobre esses escombros.
Ao passear pelo castelo, conseguimos imaginar uma Lisboa de outros tempos, enquanto nos perdemos numa das melhores vistas sobre cidade e o Tejo. Observar o horizonte através dos seus miradouros é uma experiência única, que apaixona turistas e locais.
Declarado Monumento Nacional em 1910, pouco antes da implantação da República, o Castelo de São Jorge oferece aos visitantes os jardins e miradouros de onde se pode observar a cidade em todo o seu esplendor, um espetáculo multimédia (Olisipónia), uma câmara escura (Torre de Ulisses – viagem de 360º sobre Lisboa), um espaço de exposições, uma sala de reuniões/receções (Casa do Governador) e uma loja temática.
Entre as onze torres do castelo, os jardins e a inspiradora paisagem, é fácil compreender os motivos que levam este emblemático castelo a ser um dos monumentos mais visitados de Portugal…
UMA VISITA INDISPENSÁVEL…
Preços: 8,50€ (bilhete normal); 5€ (estudantes com menos de 25 anos, pessoas com deficiência e maiores de 65 anos). Bilhete família (2 adultos, 2 crianças menores de 18 anos): 20€. Grátis para crianças com menos de 10 anos.
Horário: De 1 Novembro a 28 de Fevereiro: 09h Às 18h. De 1 de Março a 31 de Outubro: 09h às 21h. Câmera Obscura (sujeito às condições meteorológicas): 10h às 17h. A última entrada
faz-se 30 minutos antes da hora de encerramento.
Encerra a 24, 25 e 31 dez, 1 de janeiro e 1 de maio
Informação adicional: Acessos para pessoas com mobilidade reduzida / Guias áudio disponíveis
http://castelodesaojorge.pt/pt/
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