Na Quinta do Castro, no Cadaval, a ANP premiou os melhores produtores, os maiores exportadores, os melhores técnicos e personalidades que contribuíram de forma decisiva para o sucesso da fileira da Pêra Rocha do Oeste
A cerimónia de homenagens foi antecedida por um colóquio subordinado ao tema “A Pêra Rocha no Contexto Mundial e a importância do Associativismo” que contou com as intervenções de Aristides Lourenço Sécio, presidente da direção da ANP, Ana Paula Carvalho, subdiretora da DGAV e João Pedro Machado, presidente da CAP.
Dada a importância crescente deste evento, muitas foram as individualidades presentes na Gala de Encerramento que contou com a presença e intervenção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Para além do Presidente da República, o Ministro da Agricultura Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, o Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Vieira, o deputado Duarte Pacheco e o presidente da Câmara Municipal do Cadaval, José Bernardo Nunes, bem como diversos responsáveis e intervenientes de destaque da fileira da Pêra Rocha e da Administração pública e local marcaram presença no evento.
O jantar de encerramento contou com uma rápida intervenção de boas vindas por parte de Aristides Lourenço Sécio, presidente da ANP, que realçou o objetivo desta cerimónia que “pretende culminar um período da nossa atividade com o reconhecimento dos homens e das mulheres que no dia-a-dia fazem desta fileira um fator de grande importância na atividade económica de toda uma região, dando um forte contributo para o equilíbrio da nossa balança comercial, contribuindo ao mesmo tempo para o desenvolvimento social da região oeste acrescido de um forte contributo para o turismo regional e para a preservação e equilíbrio ambiental do meio rural”.
Aristides Sécio aproveitou também a oportunidade para destacar a vocação exportadora do setor “somos uma fileira que desde há muito tem afirmado Portugal no exterior levando a Pêra Rocha aos mais diversos destinos desde a Europa às Américas, da Ásia a África, resultado do trabalho de muitos e dedicados intervenientes dos quais hoje, aqui, alguns homenageamos. Procuramos assim desde há várias décadas levar a nossa fruta ao mercado da saudade onde a diáspora, ávida de ligações a Portugal, via na Pêra Rocha o elo de ligação com as suas raízes, razão principal que a levou a promover esta variedade exclusivamente portuguesa junto das comunidades onde se inserem.”
Acerca das qualidades deste fruto único, o presidente da ANP é perentório, “naturalmente que as qualidades organoléticas desta variedade ímpar levaram rapidamente a que este produto faça hoje parte da preferência de milhões de consumidores e seja um fruto do ponto de vista comercial bastante interessante porquanto da evolução da sua lenta maturação em ambiente natural, juntamente com a sua resistência ao transporte, reduzem significativamente as perdas comparativamente com outros produtos perecíveis. Mas a Pêra Rocha diferencia-se também porque é um fruto que podendo ser consumido em vários estados da sua maturação, propícia diferentes sabores, preferidos por consumidores de diferentes gerações. Numa primeira fase pela população mais jovem que gosta de trincar um fruto após a sua colheita e numa fase mais adiantada, num estado mais fundente, pelos consumidores mais seniores trazendo para ambos deliciosos sabores e aromas que fazem da Pêra Rocha o ex-libris da fruticultura portuguesa.”
Produção responsável por milhares de postos de trabalho
Em discurso Aristides Sécio não esqueceu de referir a grande importância da produção de Pêra Rocha para a região e para o país, “sendo ela responsável por milhares de postos de trabalho diretos e indiretos, pela sustentabilidade de um sem número de empresas dos mais diversos ramos que laboram ao serviço desta fileira e que criam riqueza que contribui para o todo nacional. Somos mais de 5000 empresas do setor produtivo e responsáveis por 15 mil postos de trabalho direto ao longo do ano com uma produção media de cerca de 200 mil toneladas gerando mais de 200 milhões de euros, dos quais cerca de 60 por cento resultam das nossas exportações. Somos uma atividade em crescimento pese embora algumas dificuldades que nos estão sendo colocadas, quer resultantes das decisões da política europeia, relacionadas com a decisão desmesurada de reduzir a utilização de agroquímicos necessários para fazer face a pragas próprias do sul da Europa, quer a proibição de uso de meios para podermos conservar as pêras num período mais alargado, obrigando-nos a concentrar as vendas num período mais curto, não permitindo assim uma maior rentabilização comercial” aludindo ao facto de alguns constrangimentos que têm surgido para este negócio como o impacto decorrente do embargo russo que “não permitindo à Europa comercializar para aqueles destinos hortofrutícolas criou um excedente no espaço europeu que fez reduzir os preços em face do excesso da oferta e prejudicou diretamente a nossa fileira que ao longo dos anos tinha conseguido alocar aquele mercado, mais de 6 por cento das nossas exportações”.
Acerca do esforço decorrente da abertura de novos mercados para as exportações de Pêra Rocha, Aristides Sécio regista, “com agrado, o envolvimento do anterior e do atual governo no criar das condições técnico-legais para exportarmos para os novos destinos. Também aqui uma palavra de apreço à Direção Geral Agricultura e Veterinária cujo trabalho em articulação com a fileira tem contribuído de maneira decisiva para o surgimento de novas geografias para as nossas exportações. Tudo isto só e possível porque os milhares de produtores desta região, apostados em ir mais longe, não regateiam o trabalho árduo do campo, conciliando com o uso das novas tecnologias que cada vez mais estão ao seu alcance, de forma a competirem com os seus congéneres que estando mais perto dos centros de consumo têm menos custos em toda a cadeia, mas acreditando igualmente que com as nossas condições climatéricas, com a singularidade e qualidade intrínseca dos nossos produtos, apoiados por políticas nacionais defensoras das nossas especificidades conseguiremos competir na Europa e no Mundo. É por isso que hoje, aqui, homenageamos o trabalho, a dedicação e o esforço de quem, nos diferentes patamares desta fileira, ao longo dos anos, afirmou a Pêra Rocha enquanto sabor de Portugal, reconhecido nos quatro cantos do mundo”.
No final Aristides Sécio apelou ao Presidente da República para que doravante, nas suas receções no Palácio da Presidência, a par de outros produtos nacionais, não permita que falte a Pêra Rocha que “apesar de ser a Rainha da fruticultura portuguesa, ficará certo muito bem numa mesa republicana”, referiu concluindo.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “não podia terminar melhor o dia porque passei pela Cimeira do digital [web Summit] que é muito importante, que tem uma geração virada para o digital, virada para o futuro, para uma nova forma de encarar a tecnologia e as exportações de serviços do nosso país. Mas depois, nada como terminar na terra. No sentido mais rigoroso da terra, a agricultura. Houve um tempo em que se aprendia um pouco assim a evolução económica dos países. Começava-se na agricultura, a pecuária e silvicultura, depois passa-se para a Indústria, depois passa-se para o comércio e serviços, como se isso fosse uma evolução natural, irreversível em que um setor fosse apagando os outros. Se há coisa importante no nosso país hoje, é que já todos perceberam a importância da agricultura. E esse regresso à terra, de pessoas de todas as idades, só dá razão àqueles que estiveram sempre na terra. Sempre agarrados à terra, sempre a produzir da terra. E a produzir melhor, com mais qualidade e com a preocupação de juntarem os seus esforços e se associarem.”
“Celebrar a força da nossa agricultura”
O presidente enalteceu a iniciativa que dura há 19 anos em “que se encontram para celebrar aqueles que são os melhores produtores de Pêra Rocha. E é bom que assim seja. Mas ao celebrar isto, estão a celebrar a força da nossa agricultura. A agricultura é hoje um dos setores mais pujantes a contribuir para a riqueza nacional, quando se fala nas estatísticas do PIB, a riqueza criada todos os anos. Pois é bom que fique claro, que a agricultura tem um papel fundamental na criação de riqueza. Isso só é possível devido ao papel dos agricultores, de todos os produtores e aqui, em particular, dos produtores de Pêra Rocha. Aqui há pessoas de todas as gerações, isso significa que se está a construir um futuro para isto”, referiu numa alusão às diversas gerações que constituíam a plateia do evento.
“A nossa agricultura está a transformar-se todos os dias e quem aqui está, e produz, não só está a criar riqueza para Portugal, mas está a ser um herói no dia-a-dia da economia da sociedade portuguesa. Há dois tipos de heróis. Os heróis dos grandes momentos, que normalmente nós pensamos nos heróis das guerras, ou das revoluções, nos heróis das grandes mudanças na vida das sociedades e depois, há aqueles heróis anónimos, do dia-a-dia. É mais difícil ser-se herói anónimo, toda uma vida, do que ser-se herói, daqueles heróis famosos, conhecidos, uma vez na vida, duas vezes na vida. Não estou a retirar mérito a esses heróis, estou a dar mérito ao heroísmo de todos os dias, anónimo, que é o vosso. O Presidente da República está aqui, não apenas pelo prazer de estar no concelho do Cadaval, não apenas por gostar muito de Pêra Rocha, mas sobretudo para agradecer em nome de Portugal e de todos os portugueses o vosso esforço de todos os dias, o que estais a fazer pela economia portuguesa, que é, no fundo dizer, o que estais a fazer por Portugal”, concluiu o presidente para de seguida ser presenteado com uma embalagem da rainha da fruticultura portuguesa, “tivemos o cuidado da oferta não exceder 150 euros em valor” referiu Aristides Lourenço Sécio esboçando um sorriso.
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