A quantidade de área ardida em 2016 em Portugal ficou a dever-se à “severidade meteorológica”, que atingiu este ano o segundo valor mais elevado deste século. A justificação foi dada pelo comandante nacional operacional da Proteção Civil, José Manuel Moura, numa conferência de imprensa onde foi feito um balanço operacional dos incêndios.
O comandante nacional de operações de socorro, José Manuel Moura, justificou a área ardida deste ano com a “severidade meteorológica”. Recordou, porém, que 2003 e 2005 apresentaram as mesmas características, mas os prejuízos na floresta foram muito maiores.
A apresentação dos números relativos ao Dispositivo Nacional de Combate aos Incêndios Florestais (DECIF) de 2016 realizou-se nas instalações da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e juntou Rui Almeida, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o tenente-coronel Joaquim Delgado, da Guarda Nacional Republicana (GNR) e José Manuel Moura, comandante nacional de operações de socorro da ANPC.
Os dados apresentados na conferência de imprensa indicam que a área ardida este ano quase que triplicou em relação a 2015: 152.251 hectares arderam em 2016, mas não houve registo de mortos. Apesar de ter havido uma maior quantidade de área atingida, o número de incêndios diminuiu este ano cerca de 16 por cento em relação ao ano passado, tendo deflagrado 13.137 fogos.
Segundo os responsáveis das entidades presentes na conferência de imprensa, os incêndios foram combatidos por 9.708 operacionais, na quase totalidade bombeiros, 2043 viaturas e 47 meios aéreos. A GNR informou que elaborou 7276 autos de crime de incêndio, deteve 16 pessoas em flagrante delito e identificou 478 – alguns deles alvos e posterior investigação por parte da Polícia Judiciária. “Entre as contraordenações elaboradas pela GNR, 61 por cento respeitou à gestão de faixas de combustíveis, ou seja, falta de limpeza, e 25 por cento à proibição de queima de sobrantes”, referiu a Liga dos Bombeiros Portugueses numa publicação de final de novembro.
A GNR apontou ainda o mau estado de acesso a muitos postos de vigia, a falta ou a ineficácia de planos municipais de defesa da floresta e a falta de acesso ao cadastro da propriedade rústica como dificuldades no combate aos fogos.
Verão 2016: segundo mais quente desde 1931
José Manuel Moura revelou ainda que o verão de 2016 foi extremamente quente e seco, tendo sido o segundo mais quente desde 1931, depois de 2005. O valor médio da temperatura máxima do ar foi mesmo o mais alto desde 1931 (30,6ºC), e o quinto mais seco desde esse mesmo ano – com exceções para os anos de 1938, 1965, 1996 e 2005.
Segundo o mesmo responsável o verão deste ano registou três grandes ondas de calor em agosto com incêndios que atingiram áreas superiores a 100 hectares: no dia 7 daquele mês houve 30 grandes incêndios, no dia 8 registaram-se 23 grandes fogos e no dia seguinte houve 14 grandes incêndios. O relatório da ANPC refere ainda que a área ardida em 2016 foi a maior dos últimos dez anos, tendo 33% (45.489 hectares) do total ocorrido em incêndios com início num só dia: 8 de agosto.
Entretanto, metade do território nacional deverá estar coberto até final de 2019 por sistemas de videovigilância para detetar incêndios nos espaços florestais. A notícia foi avançada pelo Ministério da Administração Interna (MAI) que já terá contratualizado a instalação desses sistemas com dez Comunidades Intermunicipais e com a Área Metropolitana de Lisboa. A instalação deverá arrancar em 2017.
A criação de uma rede de videovigilância para detetar incêndios florestais foi uma das novidades prevista na revisão do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, aprovado no final de outubro num Conselho de Ministros dedicado exclusivamente às florestas.
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