O primeiro selo português foi lançado em 1853, precisamente no ano da fundação da Ramirez & Cª (Filhos).
A apresentação desta original emissão filatélica, que incluiu uma cerimónia de obliteração, realizou-se na nova unidade industrial da Ramirez, em Lavra, concelho de Matosinhos.
Marcaram presença entre outros, o presidente e o vice-presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, respetivamente Guilherme Pinto e Eduardo Pinheiro; o adjunto do secretário de Estado das Pescas, António Parada; o director de serviços da Direção de Alimentação e Veterinária da Região Norte, Alfredo Sobral; o presidente da União de Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, Rodolfo Mesquita; o secretário-geral da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe, Castro e Melo; o presidente do conselho de administração dos CTT, Francisco Lacerda; o director de Filatelia dos CTT, Raul Moreira.
“Esta colaboração com os CTT representa uma dupla homenagem à indústria conserveira. Para além da coleção de selos que evoca a história da indústria conserveira, estes ainda são embalados e comercializados no interior de uma lata de conserva, que tivemos o orgulho de produzir”, explicou Manuel Ramirez, presidente do conselho de administração da Ramirez, acrescentando que “é sempre um orgulho para uma empresa a caminho do bicentenário, como a Ramirez, ter parceiros como os CTT, prestes a comemorar 500 anos e cujas origens remontam ao reinado de D. Manuel I”.
Para esta emissão especial, que se está a revelar um sucesso filatélico, foram produzidas 50 mil latas especialmente serigrafadas, com seis selos cada. A lata e os selos remetem para o passado de sucesso da indústria conserveira, recuperando em fotos e ícones os processos de fabrico de outrora. Os seis selos, cujo valor facial varia entre 0,47€ e 1€, têm uma tiragem de 125.000 exemplares cada. Com um formato de 30,6 X 80 mm, os selos e a lata foram concebidos pelo designer portuense Fernando Pendão.
Francisco Lacerda, por sua vez, saudou, na pessoa de Manuel Guerreiro Ramirez, “a mais antiga conserveira do mundo em laboração, um muito bom exemplo de uma empresa familiar de muitas gerações e que continua a modernizar-se”. “Por feliz acaso a Conservas Ramires foi fundada no mesmo ano que começou a circular o primeiro selo português e, 1853, ó ultimo ano do reinado de D. Maria II e esta notável coincidência teve um papel fundamental na escolha por pare dos CTT de uma empresa que fosse nossa parceira numa aventura inédita no mundo de encerrar, selos de correio com a temática da indústria conserveira nacional, em latas de conserva”, disse ainda o presidente do conselho de administração dos Correios de Portugal.
A cerimónia de lançamento de um selo ou a aposição de um Carimbo Comemorativo define – pelo menos teoricamente – o momento de entrada em circulação postal do mesmo objecto, isto é, define o início da sua capacidade de servir de recibo ao transporte da correspondência. Consistiu assim numa simples operação de obliteração (carimbar) do selo com o carimbo comemorativo de 1º dia ou Marca de Dia da estação de Correios. Os CTT utilizaram, à semelhança de outras ocasiões formais, um estojo de carimbos em prata manufacturados pela Casa Leitão & Irmão, antigos Joalheiros da Coroa.
O director de Filatelia dos CTT lembrou que antes do selo ter sido inventado quem pagava o porte das cartas era quem recebia e não quem enviava. “Imaginemos os problemas de rentabilização dos operadores da época. O cavalo já tinha cavalgado o carteiro já estava cansado e o destinatário podia recusar a carta. Então em 1840, ano do casamento do Principe Alberto com a Rainha Vitória, onde o professor de Liceu Sir Rowland Hill inventa o selo como recibo que justifica o pagamento do transporte antecipado da mensagem pelo correio. Chega ao Brasil em 1841, 1843 na Suíça, Espanha logo de seguida e chega a Portugal em 1853. Por curiosidade e coincidência reinava D. Maria II ( ano de sua morte) que estava casada com um Principe Alemão, tal como a rainha Vitória D. Fernando de Saxburgo e foi da pena dele que surgiu o desenho da éfigie de D. Maria II que depois apareceu no I selo no valor de 25 réis”, contou Raul Moreira.
Ramirez faz história
Manuel Ramirez, um algarvio que se ficou em Matosinhos e que nunca deixou de responder a um pedido de emprego que lhe chegasse, conforme salientou António Parada, natural de Matosinhos e adjunto do Secretário de Estado das Pescas, referiu no seu discurso, que a cerimónia foi também uma lição de história. “Para aqui estarem todos terão já visto, por duas vezes, o ano de 1853 inscrito no muro exterior e na calçada portuguesa na entrada desta sala. Uns saberão, outros já se terão questionado em relação ao seu significado. Pois bem, em 1853, D. Pedro V, que uniu um país desavindo, foi aclamado rei de Portugal. Foi um ano de grande relevância na história de Portugal, mas também na vida dos CTT e da Ramirez, que, século após século, persistem nas suas atividades, com idêntico espírito de inquietude e inovação”, destacou. Ou seja, 1853 foi o ano da fundação da empresa, mas também o do lançamento do primeiro selo postal português, com imagem de D. Maria II, que falecera nesse ano.
A coincidência é muito feliz e motivou um desafio dos CTT: colaborar na homenagem à indústria conserveira portuguesa através da primeira emissão mundial de selos em lata de conserva. “Estamos, por isso, duplamente honrados com esta original emissão filatélica. Primeiro, porque nos envaidece o facto de os CTT pretenderem homenagear uma indústria histórica da qual somos o representante com maior longevidade. Depois, pela possibilidade de uma empresa a caminho do bicentenário como a Ramirez ter parceiros como os CTT. Utilizar latas de conserva e a nossa tecnologia de cravação para embalar outros produtos, para além das sardinhas, das cavalas ou do atum, já não é, porém, uma novidade para a Ramirez”, referiu por sua vez, Manuel Ramirez.
O administrador da empresa conserveira afirmou ainda o gosto pelos desafios, que a caracteriza. “O lançamento da operadora de telecomunicações WTF fez-se com recurso à comercialização de cartões para telemóveis no interior de latas de conserva. Regularmente, por solicitação de um cliente, a Ramirez também embala e crava latas repletas de sardinhas… de chocolate”, exemplificou.
Desafios, como o que esta emissão especial de selos representou para uma empresa que quer continuar a fazer história e responder com a eficiência que a sustentabilidade empresarial impõe, aos requisitos dos homens de cada época. “Esta é, porventura, uma das maiores lições que a Ramirez e os CTT aprenderam com D. Pedro V, que, conta-se, terá mandado pôr à porta do seu palácio uma caixa verde, cuja chave guardava, para que o povo pudesse falar-lhe com franqueza. Por isso, mais do que uma justa homenagem à indústria conserveira portuguesa pelo seu contributo decisivo, ao longo de décadas, para a economia do país, esta emissão filatélica representa a nossa absoluta consciência em relação aos fundamentos da longevidade de ambas as empresas: saber interpretar os sinais de cada era, sem enjeitar os ensinamentos da memória”, concluiu.
Mais antiga indústria de conservas de peixe do mundo em laboração, a Ramirez é, simultaneamente, a mais moderna e ecológica unidade do sector. A empresa está presente em mais de 50 mercados. Ramirez, Cocagne, The Queen of the Coast, Tomé, Al Fares ou La Rose são algumas das centenárias marcas que a Ramirez & Cª (Filhos), SA produz na ‘Ramirez 1853’, a sua nova unidade industrial, tida como uma das cinco melhores do sector agro-alimentar mundial. Com 200 colaboradores, produz 45 milhões de latas/ano distribuídas pelas suas mais de 55 referências e factura €30 milhões/ano.
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