Cerca de 60 por cento das conservas portuguesas destinam-se aos mercados externos
Cerca de 60 por cento das nossas conservas destinam-se aos mercados externos, o que desde logo mostra o potencial deste sector como indústria exportadora. França, Itália, Inglaterra, Benelux, Suécia, Brasil, Canadá, Israel, e países da CPLP são os grandes destinos embora a fileira se preocupe com a diversificação dos mercados, já em crescimento. Para Sérgio Real da ANICP (Associação Nacional dos Industriais das Conservas de Peixe), “as exportações portuguesas de conservas de pescado representaram no ano passado, 204 milhões de euros mas, para este ano, a continuar com esta dinâmica vamos atingir os 220 milhões” e não se pense que só se exportam sardinhas, neste momento já há outras variedades como a cavala (em quantidade) e o atum (em valor) que ultrapassaram as exportações de sardinha, e Sérgio Real vê um futuro risonho: “Nos próximos cinco anos os mercados serão cada vez mais diversificados, o que também acontecerá com os produtos”. No fundo, a crise da sardinha acabou por ter efeitos benéficos sobre o sector que soube dinamizar-se, mas Sérgio Real disse ao Mundo Português que o problema da sardinha “já está em inversão, e o consequente aumento das capturas vai ser decisivo para promover o crescimento nos próximos cinco anos”.
Conceito reflete-se nas vendas
As entidades do sector não se têm poupado a campanhas de marketing muito agressivas que têm promovido o nosso peixe como “o Melhor Peixe do Mundo”. Para Sérgio Real estas campanhas reflectem-se positivamente nos mercados e atribui a essa mesma dinâmica “o crescimento da indústria conserveira tem sido constante no decurso da última década e atendendo aos números que a DOCAPESCA já divulgou e referentes ao mês de Setembro, o sector já atingiu até essa altura 163 milhões de euros, o que representa o melhor valor de sempre”.
Para Manuel Tarré, Presidente da da ALIF (Associação da Indústria Alimentar pelo Frio), todo este bom desempenho da transformação do pescado fica a dever-se ao trabalho desenvolvido pela fileira. “Com a mensagem de termos o melhor peixe do mundo, foi feito um DVD que foi distribuído pelas melhores Escolas de Cozinha da Europa, e foram mais de seiscentas, as que ficaram a saber sobre a arte de preparar o melhor peixe do mundo”…
Dez anos de grande crescimento
Manuel Tarré considerou que finalmente Portugal deixou de estar “envergonhado” e passou a “promover coisas nossas” e aponta como exemplo a “pedrada no charco” que foi a Campanha de Promoção do Melhor Peixe do Mundo. “Será que temos realmente o melhor peixe do mundo? Provavelmente, sim, então mas porque não dizê-lo?”
O facto é que as exportações de pescado no ano de 2015, segundo Manuel Tarré, ultrapassaram os mil milhões de euros, quando há pouco mais de dez anos não ultrapassavam os duzentos mil.
Fruto destas campanhas de promoção, o setor tem ganho uma visibilidade acrescida nos mercados externos, criando novas realidades, valorizando o que é português. Para além do peixe, a indústria nacional tem sabido criar valor acrescentado com espécies importadas, que posteriormente são apresentadas ao mercado com o “know-how” português, o que para Manuel Tarré “é uma novidade, já que habitualmente não somos reconhecidos pela iniciativa e somos muito cinzentos, mas esta fileira do pescado é uma grande excepção e vai continuar a vencer”.
Exportação é a grande saída
Portugal consome actualmente 58 kg de peixe “per capita”, sendo por isso o terceiro maior consumidor mundial. Na Europa esse consumo não ultrapassa os 24 Kg “per capita”, significando isto que as hipóteses de crescimento no mercado interno começam a ser cada vez mais raras, restando portanto a exportação. O próprio Manuel Tarré reconhece isso mesmo, quando afirma ao Mundo Português: “A exportação é a porta para o crescimento. Tem de ser feito com rigor e sobretudo passando a imagem que temos dado ultimamente, de um país pequeno mas que está a saber impor-se naquilo que faz”. E para o nosso interlocutor isso vai ser possível, porque as coisas estão a funcionar bem, apesar da nossa capacidade incrível para criticar sem apresentar soluções. “Mas eu considero que estamos no bom caminho, e que as forças políticas estão a dar mostras de estar interessadas em galvanizar o país. Temos um Secretário de Estado que conhece muito bem o sector, temos uma Direcção Geral das Pescas a fazer o seu trabalho em moldes sensatos e a perceber a nossa linguagem”. O grande problema parece estar em Bruxelas que, segundo aponta Manuel Tarré, tem “um reino de burocratas” que criam muitos problemas à produção, sendo necessário criar outros mecanismos, para que as coisas corram com mais celeridade.
A importância do peixe transformado
Segundo Manuel Tarré, os transformados são fundamentais dentro da fileira do pescado. Mas não deixa de enfatizar também a qualidade do peixe que considera o grande segredo desta indústria. Hoje em dia “quando os mercados escolhem produto português, fazem-no porque nós sabemos trabalhar o produto, mas também porque temos bom produto, por isso estamos cada vez mais fortes em mercados como Espanha, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Estados Unidos, em produto fresco e congelado, depois, as conservas e o bacalhau seguem também as pistas para esses mesmos mercados”.
O setor está optimista e tem razões para isso, o mercado reage bem ao produto nacional, a promoção é dinâmica, cuidada e bem dirigida e “Portugal” é atualmente uma marca que acrescenta valor e que carrega um símbolo de qualidade e de bem “saber fazer”.
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