Não há dúvidas de que o Castelo de Penedono é um monumento de grande beleza, que domina a paisagem do alto dos seus 930 metros, em plena serra de Serigo, na Beira Alta.
A primitiva fortificação de Penedono é referida por volta do ano 930, quando, no âmbito da reconquista cristã da Península Ibérica, a região foi pela primeira vez reconquistada aos muçulmanos, pelo rei de Leão.
O Castelo de Penedono é uma das fortalezas referidas na célebre doação de D. Flâmula (ou Chamôa Rodrigues) ao Mosteiro de Guimarães, em 960: naquela altura era já um local de incontornável importância na defesa e organização da Beira Alta Interior.
O século XI foi um período de avanços e recuos da fronteira cristã e a incerteza atingiu o desertificado território beirão. Penedono e o seu castelo participaram nessas lutas intermináveis mudando frequentemente de mãos, umas vezes ocupados pelas armas cristãs, outras alternando com as tropas islâmicas. A reconquista definitiva deve-se à ação do rei leonês Fernando Magno.
Depois da independência portuguesa, o Castelo de Penedono chamou à atenção de diversos reis por causa dado a sua colocação estratégica: D. Dinis (1279-1325), por exemplo, mandou reforçar as suas defesas em finais do século XIII.
O atual aspeto deste belo castelo, com a sua traça romântica, deverá remontar a finais do século XIV, quando o rei D. Fernando (1367-1383), doou estas terras ao nobre Vasco Fernandes Coutinho, senhor do couto de Leomil, que fez reconstruir o castelo e fez dele a residência da família, tendo sido assim utilizado até finais do século XV.
Tendo falecido na primavera de 1384, sucedeu-o na função o seu filho, Gonçalo Vasques Coutinho. Leal ao partido do Mestre de Avis, foi-lhe confiado, no início de 1385 o encargo de chefiar as forças do Porto que conquistaram o Castelo da Feira.
Posteriormente, distinguiu-se, por mérito, na batalha de Trancoso (maio de 1385), o que lhe valeu a promoção ao posto de marechal.
Acredita-se que no Castelo de Penedono tenham nascido os filhos deste alcaide e, dentre eles, o primogênito, Vasco Fernandes Coutinho, 1º conde de Marialva, que integrou a malfadada expedição a Tânger (1437).
Aliás, os descendentes da família Coutinho notabilizaram-se pelos seus feitos de armas, com realce para Álvaro Gonçalves Coutinho, apelidado de ‘O Magriço’ e um dos doze cavaleiros de Inglaterra que ficaram imortalizados nas estrofes camonianas do Canto VI de Os Lusíadas.
Sob o reinado de D. Manuel I (1495-1521), a vila recebeu o Foral Novo (1512), o que atesta a sua importância à época.
Foram realizadas novas obras no castelo, para as quais que terá contribuído a influência do 4º conde de Marialva, vedor das obras reais na Beira, cuja filha única, D. Guiomar Coutinho, casou com o infante D. Fernando. Falecendo o conde sem descendência, e sua filha, dois anos depois, também sem descendência, extinguiu-se a família Coutinho.
No século XVII, os domínios de Penedono e seu castelo foram referidos, associados aos Lacerda, que então usavam honoríficamente o título de seus alcaides-mores. O castelo foi visitado pelo historiador, escritor e poeta Alexandre Herculano em 1812, que o descreveu, à época, como já em ruínas.
Abandonado, chegou mesmo a ser proposta a sua demolição, mas o Castelo de Penedono foi defendido por um grupo de cidadãos, a que chamaram “Homens Bons”, e já no século XX, foi classificado como Monumento Nacional, em 1910.
Em 1940, no âmbito das comemorações dos Centenários, promovidas pelo Estado Novo português, o castelo foi alvo de intervenções de consolidação e restauro de panos de muralhas e de torres, parcialmente reconstruídos, a cargo da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
Novos trabalhos de restauro realizados em 1943 e em 1953, permitiram que o conjunto chegasse até aos nossos dias relativamente bem conservado.
Este é, sem dúvida, um monumento militar de grande beleza que domina a paisagem do alto dos seus 930 metros, em plena serra de Serigo.
A lenda das duas pedras brancas
Antes da sua reconquista definitiva que se deveu à ação de D. Fernando Magno, o castelo foi pertença de uma bela moura, muito rica. Conta a ‘Lenda das Duas Pedras’ que há duas pedras brancas, relativamente próximas, que se distingue perfeitamente no lado direito da fachada. Estas pedras serão as tampas de duas caixinhas misteriosas, ali deixadas pela bela moura para esconder a sua fortuna.
Para que ninguém lha roubasse, colocou numa caixa todos os seus tesouros e na outra a peste que causaria a morte imediata a quem se atrevesse a abrir-la. Como não se sabia em qual das caixas estava escondido o tesouro, conta a lenda que ninguém até hoje se atreveu a tentar abrir uma das caixas:
é que quem remover a pedra errada libertará a peste que matará todos os habitantes da região…
Os judeus de Penedono
Vila localizada na Beira Alta a 900m de altitude, Penedono envolve este majestoso castelo medieval. À sua sombra existem muitas evidências da presença de cristãos-novos, que vão desde marcas cruciformes dos ombrais das portas a outros elementos arquiteturais.
Embora não esteja provada a existência de um bairro judeu anterior, sabe-se que em 1569 foram iniciados os processos de acusação de judaísmo contra naturais de Penedono. Cristãos-novos de apelidos como Rodrigues, Henriques, Fonseca, Gomes, Lopes e Pinto foram vítimas desses processos.
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