As Caves do Casalinho foram fundadas em 1944 na região dos Vinhos Verdes. Desde cedo, as suas marcas, sobretudo o ‘Três Marias’, têm obtido o reconhecimento dos mercados nacional e internacional. E a empresa continua a investir na criação de novas marcas, como revela o seu diretor geral, Miguel Reis.
Qual é a história das Caves do Casalinho?
A empresa iniciou a sua atividade em 1944 e desde logo lançou duas marcas que ficaram muito conhecidas pela população em Portugal e pelos portugueses pelo mundo fora. A marca ‘Três Marias’ e a marca ‘Ouro Velho’. Também temos a marca ‘Casalinho’ e temos lançado mais recentemente outras.
Originalmente as Caves do Casalinho eram um produtor de vinhos verdes, mas muito rapidamente começou a engarrafar vinho de outras regiões, ainda que a produção em termos de vinha seja só de vinho verde.
A Caves do Casalinho era detida por duas famílias e teve o seu pico de vendas durante os anos 80 e 90 a que se seguiu um decréscimo nos números de vendas. Em 2008 a minha família adquiriu parte da empresa e neste momento continuam duas famílias à frente da empresa, uma delas que vem desde a sua formação. Desde então temos tentado recuperar a empresa e as suas marcas. Não tem sido fácil, mas é um projeto muito interessante pelo contato que permite com a natureza, com a agricultura, com os mercados ultramarinos, as ex-colónias portuguesas e dos emigrantes portugueses, porque foi pela mão deles que os vinhos Caves do Casalinho estiveram sempre presentes no estrangeiro, seja em França, Alemanha, mesmo na Asia, em locais como Macau, nos EUA, no Brasil, mas estamos sempre à procura de abrir novos mercados.
Com novos lançamentos?
Mais recentemente temos outras marcas lançadas como o ‘Santo Adrião’, o ‘Romanisco’, um Douro que tem conquistado o reconhecimento do mercado arrecadando várias medalhas de ouro em concursos. Neste momento a marca ‘Três Marias’ está a ser revitalizada no mercado nacional, em alguns mercados europeus nunca chegou a sair, esteve sempre presente, infelizmente com menores volumes hoje em dia.
‘Três Marias’ é uma referência indissociável da região dos vinhos verdes. Como estão as vendas deste vinho?
Já teve melhores dias. O mercado da saudade apesar de ainda existir tem hoje menos relevância. Em França, por exemplo, um país onde ainda se vende com algum significado, é óbvio que se vende graças à primeira geração de emigrantes, mas essas famílias já vão na terceira geração, são praticamente ‘Franceses’, ou ‘ Suíços’ e já não é exatamente a saudade que os motiva. Saudade era mais naquela primeira e, eventualmente na segunda geração, na terceira já houve uma grande mudança. Ou seja, as marcas mais tradicionais e que não estiveram tão presentes perderam notoriedade.
O que procuram as novas gerações?
As novas gerações já procuram outras coisas, podem até procurar produto português, mas com outra imagem, com outra notoriedade. É exatamente isso que tentamos com as novas marcas, apesar do ‘Três Marias’ ser a marca predominante em termos de vendas no mercado da saudade, talvez por influência dos mais velhos. Isto apesar de hoje já não ter a mesma percentagem nas vendas totais, em favor de outras marcas e vinhos nossos, que estrategicamente procuramos privilegiar. É isso que estamos a tentar revitalizar quer nos mercados mais evoluídos como o Alemão, com novas marcas, quer em mercados onde ainda temos alguma tradição com a marca ‘Três Marias’, através da renovação da imagem deste produto, uma imagem um pouco mais moderna e adequada ao que os clientes procuram atualmente, apresar de manter a linha tradicional que caracterizou a marca. Hoje é a marca ‘Casalinho’ a mais procurada.
São novas essas marcas ou já existiam?
As marcas já existiam, como marcas genéricas, mas começámos a criar vinhos monocasta como o Loureiro, o Arinto e mais recentemente o ‘Grande Escolha’ que é o que tem corrido melhor, tem revelado maior adesão. São produções bastante mais pequenas, não se produz um ‘Grande Escolha’ em grandes quantidades, mas é um vinho que pelo nome e pela conotação que tem é bastante valorizado à partida pelas pessoas. Tem uma imagem mais clássica, mas bastante aproximada à dos vinhos que são consumidos na Europa.
Qual é o volume de exportações da empresa?
Os valores ‘normais’ andam pelos 70 por cento da produção para exportação. Foi quase sempre assim, apesar de ser variável, tem andado sempre por estes valores.
A Caves do Casalinho foi sempre uma empresa vocacionada para a exportação. Este é um trabalho que já vem de trás, a empresa sempre teve clientes em todos os continentes, não quer dizer que sejam grandes clientes, mas sempre tivemos clientes em vários locais no mundo. Desde a Asia, América do Norte e América do Sul, Europa e África, também. Angola foi desde sempre um bom cliente, apesar de estar a atravessar problemas atualmente. Nós também sofremos com isso, tivemos uma quebra de mais de 30 por cento de vendas para Angola que estamos a tentar substituir por novos mercados, mais recentemente voltamos a estar em Timor, por exemplo, estamos a entrar na China, no ‘mainland’, não nos mercados típicos da China, Hong-Kong e Macau, hoje em dia a China já começa a ser um bom consumidor de vinho. Estes são os mercados mais recentres onde entrámos e este ano já registámos algum crescimento, estamos a conseguir compensar alguma da quebra do mercado angolano com recurso a outros mercados.
Qual a sua opinião do SISAB PORTUGAL?
Penso que o SISAB PORTUGAL é uma feira muito interessante.
Tem dois âmbitos, duas grandes qualidades. É uma oportunidade para rever clientes, isso é uma garantia. Sabemos que a maior parte dos exportadores, que estão lá como a Caves do Casalinho desde a primeira edição, têm ali uma oportunidade de rever os clientes que estão no estrangeiro, o que nem sempre é fácil. Cria-se essa oportunidade.
A segunda qualidade, naturalmente, são novos clientes, novos mercados. Nesse aspeto tem havido variedade nos compradores que vêm. Este ano notou-se bastante presença asiática e com interesse. Tem mudado. Quase todos os anos há a aposta num perfil ligeiramente diferente para não haver repetições, para não ser mais do mesmo. O facto de ser acessível apenas a profissionais que vão com o objetivo de fazer negócio torna-se bastante produtivo. Genericamente é um evento muito bem pensado, que tem melhorado em vários aspetos e que oferece vantagens às empresas que marcam presença.
Os Vinhos Verdes são alvo de grandes campanhas mediáticas. Qual é o reflexo na vossa estratégia de vendas?
Desde logo a criação de novas marcas e nova imagem é uma necessidade. Nós produzimos vinho verde, não produzimos imitações de vinho verde. Hoje começa a haver bastantes “imitações” que dificultam o nosso trabalho, quer pelo preço, quer pela confusão que gera no consumidor. Hoje em dia alguns os frisantes e alguns vinhos gaseificados são engarrafados de forma a se assemelharem a vinho verde. Isto obriga a trabalhar mais a nossa imagem, a tentar ‘vincar’ a imagem do vinho verde, sem perder a identidade. O importante é assumir e identificar que somos Vinho Verde sob o risco de nos assemelharmos a outros produtos que não são vinho verde. Isto também se nota na exportação uma vez que, ao fim ao cabo, os outros vinhos também são vinho português. Se não se explica e não se ensinam as diferenças entre uns e outros, para quem compra é igual. No final o consumidor é sempre quem decide e, desde que compre o que gosta, nada há a dizer.
A diferenciação é o segredo do ‘Ouro Velho’?
‘Ouro Velho’ é uma garrafa exclusiva. Hoje em dia, face às exigência das vidreiras, já não é tão fácil manter este produto, torna-se algo caro. Mas continua a funcionar muito bem em determinados mercados. Não em mercados mais ‘cerebrais’, como a Alemanha que ligam pouco à imagem, mas mais noutros mercados onde a imagem e a diferenciação ainda é importante. Por exemplo na Ásia, eles gostam de ver uma garrafa diferente.
É um dos suportes da empresa, um dos vinhos em que temos mais volume. Primeiro é o ‘Três Marias’ e depois o ‘Ouro Velho’. São as duas marcas com mais retorno.
Este vinho comprova também o sucesso da estratégia em produzir vinhos de outras regiões?
Trabalhamos com as principais regiões produtoras de vinho. Desde há muito tempo que as Caves do Casalinho têm uma autorização para engarrafar vinhos do Douro, nomeadamente sob a marca ‘Romanisco’, detentora de vários prémios nacionais e internacionais. Penso que hoje em dia já não é fácil obter esta autorização, a menos que se esteja implantado na região. Tudo começou por ai. As outras regiões autorizam com alguma facilidade. Como o vinho verde por si só, pode não ser portefólio suficiente para apresentar, a empresa teve sempre estas alternativas. Claro que a este nível trabalhamos gamas médias, médias-altas, não vale a pena estar a competir com os grandes produtores em gamas de entrada. Mais recentemente temos Alentejo que veio completar as três regiões com que trabalhamos atualmente Douro, Vinho Verde e Alentejo, mas podemos vir a trabalhar com qualquer uma. O objetivo é ter mais oferta, poder oferecer uma gama mais abrangente.
Sem descurar uma forte aposta no vinho verde de onde são originários?
O nosso foco é vinho verde, nos últimos anos, temos feito alguns investimentos em vinha. Aumentámos em 50 por cento a nossa área de vinha, dos 20 hectares para os 33 hectares. O nosso objetivo é aumentar, neste momento ainda não temos o reflexo do aumento de produção, mas estimo que nos próximos dois, a quatro anos vamos começar a sentir mais quantidade e melhor qualidade que é o que procuramos.
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