O centenário da morte de Manuel de Arriaga, primeiro presidente eleito da República Portuguesa, está a ser assinalado com uma exposição no Panteão Nacional, em Lisboa. Aborda os aspetos mais marcantes da sua vida e obra, e ainda importantes iniciativas: os concursos para o busto e estátua da República, a bandeira nacional e o hino ‘A Portuguesa’ que, em conjunto com a figura do Chefe de Estado, passaram a constituir os símbolos nacionais.
Está de férias em Portugal e vai passar por Lisboa? Reserve um pouco do seu tempo e vá ao Panteão Nacional visitar os túmulos das nossas glórias nacionais e ver a exposição, centranda na vida e obra de Manuel de Arriaga. Trata-se da exposição ‘Manuel de Arriaga e a construção da imagem da República’, que celebra o centenário da morte do primeiro presidente eleito da República portuguesa.
A exposição, naugurada a 12 de julho, com a presença do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e de familiares de Manuel de Arriaga, retrata as iniciativas do regime republicano para definir símbolos nacionais, como a bandeira e o hino nacional.
Aborda não só os aspetos mais marcantes da vida e da obra desta ilustre personalidade da vida e política portuguesas, como igualmente as importantes iniciativas republicanas na definição de uma nova imagem do regime: os concursos para o busto e estátua da República, a bandeira nacional e o hino ‘A Portuguesa’ que, em conjunto com a figura do Chefe de Estado, passaram a constituir os símbolos nacionais.
Estes símbolos são visíveis num leque abrangente de peças originais pertencentes a alguns dos mais importantes museus e monumentos e palácios portugueses, bem como de coleções particulares. O espólio inclui exemplares de pintura, escultura, têxteis e publicações, assim como obras que serão apresentadas em público pela primeira vez.
Quem foi Manuel de Arriaga?
Manuel de Arriaga, foi o primeiro Presidente da República Portuguesa. Nasceu a 8 de julho de 1840 na cidade da Horta, ilha açoriana do Faial, e foi professor, advogado, deputado, escritor e poeta, desempenhando ainda, entre outros, os cargos de procurador da República e de reitor da Universidade de Coimbra, instituição onde se formou.
Foi convidado para professor e mestre do príncipe D. Carlos e do infante D. Afonso. A recusa ter-lhe-á custado o cargo no Liceu de Lisboa e o primeiro lugar no concurso para a docência de História Universal e Pátria no Curso Superior de Letras, em consequência da sua anulação por Hintze Ribeiro. Foi eleito deputado republicano em 1882 (círculo do Funchal) e em 1890 (Lisboa). Foi igualmente candidato a deputado em 1878 (Lisboa), 1881 (também por Lisboa), 1884 (Funchal) e 1889 (Horta), sem que fosse eleito. Nessa qualidade desenvolveu uma intensa atividade oratória nos comícios de propaganda republicana. Em Agosto de 1883 foi eleita a primeira direcção nacional do Partido Republicano Português (PRP) e Manuel de Arriaga integrou o Directório, mantendo uma acção preponderante neste órgão até 1889.
Em 1890 foi preso em consequência das manifestações patrióticas de 11 de Fevereiro em protesto contra o Ultimatum britânico, de 11 de Janeiro do mesmo ano. Membro do Directório do Partido Republicano por ocasião da gorada revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891 no Porto, foi novamente detido. Ainda nesse ano, foi um dos autores do primeiro e único programa oficial do PRP no período monárquico. Mas em 1899, deixou de integrar os órgãos partidários, dedicando-se à advocacia e à escrita. Onze anos depois, a 17 de Novembro de 1910 foi nomeado Procurador-Geral da República, após convite formulado pelo ministro da Justiça, Afonso Costa e em maio de 1911 foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte pelo círculo do Funchal.
Eleição e mandato
Uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português, iniciada no dia 2 de outubro e vitoriosa na madrugada do dia 5 de outubro de 1910, destituiu a monarquia constitucional e implantou um regime republicano em Portugal. A 6 de outubro foi instituido um governo provisório que se manteve em funções até à eleição do Presidente da República.
Manuel de Arriaga foi eleito a 24 de Agosto de 1911 no meio de forte competição com o outro candidato, Bernardino Machado. Recolheu 121 votos, contra 86 de Bernardino Machado, quatro de Duarte Leite, um de Sebastião de Magalhães Lima, um de Alves da Veiga e quatro listas em branco. No discurso de tomada de posse afirmou-se depositário da “simpática missão de chamar à conciliação, à paz, à ordem, à harmonia social a família portuguesa, em nome da Liberdade, em nome da República, em nome da nossa libérrima Constituição”. A missão cedo se revelou espinhosa, à medida que rivalidades e lutas começam a minar a família republicana.
As dificuldades do I Governo foram evidentes perante as divisões que se iam acentuando na Câmara dos Deputados (democráticos ou radicais, unionistas, evolucionistas e independentes). À divisão efectiva das forças republicanas juntou-se, a 29 de Setembro de 1911, uma tentativa de insurreição militar no Porto e, entre 1 e 5 de Outubro, a primeira incursão monárquica, realizada por uma coluna de Paiva Couceiro a partir da Galiza. A 28 de Janeiro de 1912 teve início uma greve geral em Lisboa, em solidariedade para com os trabalhadores rurais de Évora, cuja associação havia sido encerrada pelo governador civil. Na sequência da vitória “constitucionalista”, Manuel Arriaga renunciou ao mandato presidencial, em carta ao presidente do Ministério de 16 de Maio. Dez dias volvidos enviou a mensagem de resignação ao Congresso, onde renunciou formalmente no dia 29 de Maio de 1915.
Ao abandonar a Presidência, dedicou-se à redacção das suas memórias. Publicou em 1916 o seu último livro, intitulado ‘Na Primeira Presidência da República Portuguesa. Um Rápido Relatório’ , onde procurou justificar a sua conduta política. Morreu em Lisboa, a 5 de Março de 1917, com 76 anos de idade. O governo, então presidido por António José de Almeida, mandou realizar funerais nacionais. A 16 de Setembro de 2004 os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional.
Manuel de Arriaga e a construção da imagem da República
Até 13 de novembro de 2017
Panteão Nacional (Campo de Santa Clara – Lisboa)
Abril a setembro – 10h00 às 18h00 (última entrada às 17h40). Outubro a março – 10h00 às 17h00 (última entrada às 16h40).
Encerrado: Segunda–feira, 1 de Janeiro, domingo de Páscoa, 1 de Maio, 13 de junho, 24 e 25 de dezembro.
Bilhete normal: 4 euros
Entrada gratuita aos domingos e feriados até às 14h para todos os cidadãos residentes em território nacional
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